Deitado em
minha cama, pude ver pela luz invadindo o quarto que o sol começava a ganhar
força nos céus, assim como minha bexiga ganhava força na disputa entre a
preguiça e o início do dia. Foi quando ouvi sons de panelas vindo da cozinha
que realmente me animei para sair de baixo dos lençóis, com um pouco de sorte
meus pais estariam preparando mingau e aquela manhã seria ótima.
Minha mãe
tinha a habilidade de tornar o início do dia sempre muito prazeroso. Ela não
trabalhava fora e quando meu pai saia para o trabalho, eu sempre podia fazer o
que bem entendesse, fosse jogar videogames ou simplesmente ficar na cama.
Então, aos quatorze anos, eu gostava muito da minha mãe, o que, verdade seja
dita, é raro nessa idade.
Mas então uma
estranha passou pela porta gritando ordens para uma empregada que eu sequer
sabia que existia. Parecia apressada e estava vestida com roupas elegantes e desconfortáveis
dessas que um bom emprego exige. Passou pelo quarto e olhou-me com uma
expressão cheia de ternura.
- Bom dia
queridinho! Dormiu bons sonhos?
Não estava
entendendo nada daquilo. Me deu um beijo na testa e falou como minha mãe
falava, mas não era sequer parecida com ela. Ao invés de cabelos negros e
longos e uma aparência jovial, essa tinha um rosto cansado e envolto por fios
loiros. Estava tão confuso que acabei não reagindo.